Edmundo de Souza e Silva
Engenheiro, professor e pesquisador
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Atualmente, há inúmeras ferramentas de IA projetadas para o ensino e a aprendizagem. Alguns sites universitários listam mais de cem ferramentas educacionais.
Essas ferramentas, além de economizar tempo, podem auxiliar na geração de novas ideias para o ensino, permitindo que os educadores se concentrem na criação de um ambiente interativo e criativo para os alunos.
A IA nos proporciona mais tempo para explorar, questionar e criar. Ela não substitui a curiosidade, o diálogo ou a criatividade.
JULHO/AGOSTO 2025 | nº2 | Como produto da ciência de ponta, inteligência artificial deve ser traduzida em práticas acessíveis, éticas e pedagogicamente sólidas
Edmundo de Souza e Silva
Engenheiro, professor e pesquisador
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro
IMAGEM: ADOBESTOCK
Imaginemos que um professor necessite preparar um conjunto de aulas sobre um tópico, qualquer que seja, por exemplo, “gravidade”. Então, nosso colega digita em um mecanismo de busca usual: “gravidade em Física para alunos do ensino médio”, ou palavras-chave semelhantes. O que se obtém é uma enorme quantidade de conteúdos, alguns confiáveis, outros não, e será preciso ainda escolher quais desses são adequados para a idade dos alunos, quais são corretos e pedagogicamente úteis. Em seguida, vem a tarefa de preparar slides, encontrar figuras ilustrativas e criar atividades de aula. Mesmo para um tópico bem conhecido, gasta-se em geral muito tempo com essa tarefa.
Nosso colega já ouviu falar muito sobre inteligência artificial (IA). Talvez já tenha experimentado um chatbot para tarefas pessoais. Também já ouviu falar que muitos alunos estão usando ferramentas de IA para resolver trabalhos escolares e escutou vários discutindo sobre a existência de sites que ensinam como colar para resolver os exercícios de casa. Que conclusão deve tirar dessa confusão?
Desde o final de 2022, após o lançamento público do ChatGPT, a IA quebrou recordes históricos de adoção de uma tecnologia emergente. Embora as pesquisas na área estejam em andamento há muitas décadas, os avanços recentes aceleraram drasticamente a tecnologia, permitindo a sua adoção no dia a dia do cidadão comum. As ferramentas de IA estão amplamente disponíveis e seu impacto na mídia, na educação e na sociedade tem sido considerável.
Atualmente, há inúmeras ferramentas de IA projetadas para o ensino e a aprendizagem. Alguns sites universitários listam mais de cem ferramentas educacionais, como a Khanmigo, da Khan Academy, e a cada dia surgem novas. Já neste link da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, há material relevante para todos os gostos, com informações sobre IA, workshops e palestras. Existem plataformas que auxiliam no planejamento de aulas, geram atividades e avaliações para uma classe com base em objetivos de aprendizagem, automatizam a correção e a avaliação de textos, fornecem guias de estudo e auxiliam na escrita em geral.
Essas ferramentas, além de economizar tempo, podem auxiliar na geração de novas ideias para o ensino, permitindo que os educadores se concentrem na criação de um ambiente interativo e criativo para os alunos. Aplicativos de IA também auxiliam professores e alunos a resumir conteúdos complexos, gerar apresentações e responder a perguntas sobre materiais a eles submetidos, como PDFs ou links para páginas na web.
Algumas plataformas podem criar linhas do tempo, extrair as ideias principais dos conteúdos de aprendizagem, ou até mesmo produzir resumos em áudio desses materiais. Em aplicações mais criativas, é possível interagir com a IA como se ela fosse Newton, Einstein ou Sócrates. Assim, permitem que os alunos explorem a história e a ciência de modo a estimular o diálogo, o pensamento crítico e a curiosidade.
Atualmente, há inúmeras ferramentas de IA projetadas para o ensino e a aprendizagem. Alguns sites universitários listam mais de cem ferramentas educacionais, como a Khanmigo, da Khan Academy, e a cada dia surgem novas. Já neste link da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, há material relevante para todos os gostos, com informações sobre IA, workshops e palestras. Existem plataformas que auxiliam no planejamento de aulas, geram atividades e avaliações para uma classe com base em objetivos de aprendizagem, automatizam a correção e a avaliação de textos, fornecem guias de estudo e auxiliam na escrita em geral.
Essas ferramentas, além de economizar tempo, podem auxiliar na geração de novas ideias para o ensino, permitindo que os educadores se concentrem na criação de um ambiente interativo e criativo para os alunos.
Aplicativos de IA também auxiliam professores e alunos a resumir conteúdos complexos, gerar apresentações e responder a perguntas sobre materiais a eles submetidos, como PDFs ou links para páginas na web.
Algumas plataformas podem criar linhas do tempo, extrair as ideias principais dos conteúdos de aprendizagem, ou até mesmo produzir resumos em áudio desses materiais. Em aplicações mais criativas, é possível interagir com a IA como se ela fosse Newton, Einstein ou Sócrates. Assim, permitem que os alunos explorem a história e a ciência de modo a estimular o diálogo, o pensamento crítico e a curiosidade.
Ponte entre ciência e educação
Por falar em Sócrates, é possível preparar uma aula com base no questionamento socrático utilizando aplicativos de IA. Desta forma, a IA atuaria como um oponente no diálogo ou como um assistente de pesquisa em atividades de aprendizagem, ajudando os alunos a colaborar, orientar grupos em tarefas de pesquisa ou servir como um parceiro reflexivo enquanto os alunos avaliam as respostas geradas pela IA.
Além de responder a perguntas, a IA pode se adaptar à formação e ao nível de conhecimento do usuário. Um aluno pode receber explicações básicas, enquanto um professor pode solicitar abordagens aprofundadas. Tutores virtuais e chatbots podem aprimorar o aprendizado por meio da interação em tempo real.
Essa ampla aplicabilidade da IA ilustra um ponto importante: nunca foi tão fácil construir uma ponte entre a ciência e a educação. A IA facilita a compreensão de conteúdos científicos, oferece suporte a alunos de todos os níveis e permite que os educadores integrem os avanços de qualquer área ao seu ensino.
No entanto, para utilizar essas ferramentas de forma eficiente, tanto alunos quanto professores devem desenvolver a “literacia em IA”. O conceito vai além de aprender sobre o que a IA é capaz de fazer. Envolve compreender como interagir com ela de maneira reflexiva e estratégica. Uma das principais habilidades é a formulação de comandos claros e estruturados que a orientem a produzir respostas relevantes e precisas.
Ao mesmo tempo, a integração da IA no ensino deve estar fundamentada no pensamento científico. A ciência valoriza o raciocínio analítico, a formulação e teste de hipóteses, a coleta de dados e as conclusões baseadas em evidências. Todos esses processos estão alinhados ao modo de como os modelos de IA são treinados. Quando utilizada em sala de aula, a IA não se limita a transmitir conteúdo, mas pode oferecer oportunidades para que os alunos se envolvam em processos que espelham o próprio método científico.
Além disso, estudantes e professores devem compreender as limitações, os riscos e os vieses da IA. A ciência promove a investigação crítica, essencial para o uso consciente das ferramentas de IA. Semelhante ao que fazem os cientistas, alunos e professores devem aprender a questionar o conteúdo gerado pelas ferramentas de IA criando um ambiente de aprendizagem em que a tecnologia atua como parceira na educação reflexiva e baseada em evidências.
Orientação ética e reflexiva
A IA tem um potencial extraordinário para transformar a educação em todos os níveis. No entanto, ela não pode substituir a criatividade humana, o pensamento crítico, a empatia e o julgamento profissional de um educador qualificado. Conteúdos gerados por ferramentas de IA podem parecer convincentes, mas também podem conter erros, transmitir desinformação com aparente segurança ou incentivar um engajamento superficial para tópicos complexos.
Há também sérias preocupações com o plágio e a estagnação intelectual, uma vez que os alunos podem acabar evitando o processo de aprendizagem optando por atalhos. Além disso, os chatbots de IA, apesar de sua sofisticação, podem transmitir a ilusão de consciência ou conexão emocional, o que pode impactar negativamente no desenvolvimento mental e emocional dos estudantes.
É por isso que os educadores devem orientar os alunos no uso da IA de forma ética e reflexiva. A IA nos proporciona mais tempo para explorar, questionar e criar. Ela não substitui a curiosidade, o diálogo ou a criatividade. É uma ferramenta imensamente poderosa, mas deve ser usada para aprimorar, e não substituir, o processo de aprendizagem. O desafio é social.
Quando efetivamente integrada ao ambiente de aprendizagem, a tecnologia tem o potencial de democratizar o acesso à educação e enriquecer a experiência de ensino. No entanto, se formos incapazes de desenvolver a competência para utilizar essas ferramentas de forma eficiente, corremos o risco de construir um país em que apenas alguns se beneficiam da IA, enquanto muitos ficam para trás.
A Academia Brasileira de Ciências já destacou os inúmeros benefícios e desafios relacionados ao uso da IA na educação, e enfatiza que é necessário agir com urgência para garantir que essa tecnologia se torne uma ferramenta de inclusão e empoderamento.
Nesse contexto, construir uma ponte entre ciência e educação torna-se mais urgente do que nunca. A IA, como produto da ciência de ponta, deve ser traduzida em práticas acessíveis, éticas e pedagogicamente sólidas. Essa ponte permite que a inovação científica capacite educadores e alcance alunos de todas as regiões e contextos socioeconômicos.
É a ponte entre a ciência e a educação que o Brasil deve ajudar a construir.
Há também sérias preocupações com o plágio e a estagnação intelectual, uma vez que os alunos podem acabar evitando o processo de aprendizagem optando por atalhos. Além disso, os chatbots de IA, apesar de sua sofisticação, podem transmitir a ilusão de consciência ou conexão emocional, o que pode impactar negativamente no desenvolvimento mental e emocional dos estudantes. É por isso que os educadores devem orientar os alunos no uso da IA de forma ética e reflexiva.
A IA nos proporciona mais tempo para explorar, questionar e criar. Ela não substitui a curiosidade, o diálogo ou a criatividade.
É uma ferramenta imensamente poderosa, mas deve ser usada para aprimorar, e não substituir, o processo de aprendizagem. O desafio é social.
Quando efetivamente integrada ao ambiente de aprendizagem, a tecnologia tem o potencial de democratizar o acesso à educação e enriquecer a experiência de ensino. No entanto, se formos incapazes de desenvolver a competência para utilizar essas ferramentas de forma eficiente, corremos o risco de construir um país em que apenas alguns se beneficiam da IA, enquanto muitos ficam para trás.
A Academia Brasileira de Ciências já destacou os inúmeros benefícios e desafios relacionados ao uso da IA na educação, e enfatiza que é necessário agir com urgência para garantir que essa tecnologia se torne uma ferramenta de inclusão e empoderamento.
Nesse contexto, construir uma ponte entre ciência e educação torna-se mais urgente do que nunca. A IA, como produto da ciência de ponta, deve ser traduzida em práticas acessíveis, éticas e pedagogicamente sólidas. Essa ponte permite que a inovação científica capacite educadores e alcance alunos de todas as regiões e contextos socioeconômicos.
É a ponte entre a ciência e a educação que o Brasil deve ajudar a construir.