
Como assim?
Formação de professores
Nesta seção, especialistas convidados por YVIRÁ respondem a perguntas enviadas por professores que integram a Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE) como “Amigos da Rede”.
Na estreia, abordamos questões relativas à formação de professores que atuam na Educação Especial. As respostas são de Enicéia Gonçalves Mendes, do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Como a formação docente pode preparar os professores para promover uma educação inclusiva, garantindo estratégias e recursos acessíveis para estudantes com deficiência?
IMAGEM: ADOBESTOCK
*Enviada por Ana Lucia de Albuquerque Moniz, professora de Educação Especial, município de Nilópolis - RJ
Enicéia Gonçalves Mendes
Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
“Incumbe ao poder público assegurar a inclusão de conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência. Infelizmente, isso ainda não tem sido acatado pela maioria das instituições que forma professores.”
“Essa formação deve ser direcionada para melhorar as habilidades interpessoais e de comunicação dos professores, para favorecer o trabalho colaborativo entre professores do ensino comum e especial.”
Enicéia Gonçalves Mendes
Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, de 1996, prevê a formação de dois tipos de professores: um para atuar em classe comum, e outro para apoiar estudantes com deficiência, que seria o professor de Educação Especial. No caso da formação inicial de professores do ensino comum, a Lei 13.146, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), de 2015, dispõe que incumbe ao poder público assegurar a inclusão de conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência.
Infelizmente, isso ainda não tem sido acatado pela maioria das instituições que forma professores. E ainda que algumas instituições cumpram este requisito, as pesquisas têm mostrado muitos problemas nessas ofertas, tais como: restrição a apenas determinados cursos, em geral da Pedagogia, insuficiência ou inadequação de conteúdo e/ou a natureza optativa das disciplinas.
“Incumbe ao poder público assegurar a inclusão de conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência. Infelizmente, isso ainda não tem sido acatado pela maioria das instituições que forma professores.”
Assim, as medidas necessárias para melhorar a formação de professores no Brasil envolvem: 1) garantir a oferta obrigatória do conteúdo; 2) deixar de estudar as categorias das deficiências segundo o modelo biológico, enfatizando mais modelo social e as práticas universalistas, que visam o ensino acessível a todos os estudantes, e 3) preparar os professores para desenvolverem habilidades que favoreçam a cultura e o trabalho colaborativo no contexto escolar.
No caso da formação de professores de Educação Especial, durante muito tempo foi estimulada a formação continuada em cursos de especialização, sendo que um professor formado em qualquer curso de licenciatura poderia cursar uma especialização, de no mínimo 360 horas, para se tornar também apto para assumir uma vaga como professor de Educação Especial.
Infelizmente, essa política de formação continuada acabou favorecendo o crescimento de cursos privados e à distância, que oneram financeiramente aqueles que desejavam seguir essa carreira, e não garantiam a formação necessária para a atuação de professores de Educação Especial.
Recentemente, tem surgido uma tendência de criação de cursos de licenciatura específicos em Educação Especial e/ou inclusiva, embora ainda faltem definir diretrizes curriculares mínimas para esses cursos. Destaca-se ainda que a maioria é de instituições privadas e há apenas três universidades públicas no país que ofertam atualmente essa licenciatura específica: as universidades federais de Santa Maria (RS), de São Carlos (SP) e a Rural do Rio de Janeiro (RJ).
“Essa formação deve ser direcionada para melhorar as habilidades interpessoais e de comunicação dos professores, para favorecer o trabalho colaborativo entre professores do ensino comum e especial.”

Como assim?
Formação de professores
De que maneira a formação continuada em Educação Especial contribui para o desenvolvimento de práticas inclusivas pelos professores do Fundamental 1? E o que podemos fazer na sala de aula regular para melhor incluir os alunos da educação especial pública, considerando o cenário educacional do país?
FOTO: RAFA MEDDERMEYER/AGÊNCIA BRASIL
*Enviada por Sheila Garbulha Tunuchi de Campos, professora especialista em Deficiência Intelectual no Ensino Fundamental I e II, Rede municipal de Porto Feliz – SP
Enicéia Gonçalves Mendes
Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
Enicéia Gonçalves Mendes
Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
Além da formação inicial é necessário prover oportunidades de formação continuada para todos os professores, o que pode acontecer de várias formas. Entretanto, as propostas mais efetivas, cuja oferta é de responsabilidade dos sistemas ou redes de ensino, têm sido as formações direcionadas para professores em exercício, que levem em consideração o “chão da escola”, ou as experiências reais e os desafios vivenciados pelos professores, e que aliem teoria e prática.
Essa formação deve ser direcionada para melhorar as habilidades interpessoais e de comunicação dos professores, para favorecer o trabalho colaborativo entre professores do ensino comum e especial, e para aprender a como é possível planejar e ministrar aulas acessíveis, que permitam diferenciar as instruções, o conteúdo, as tarefas e modos de avaliação de modo a contemplar a diversidade de interesses, estilos de aprendizagem, as potencialidades e fragilidades de todos os alunos.