Sebastián J. Lipina
Unidade de Neurobiologia Aplicada
Centro de Educação Médica e Pesquisas Clínicas “Norberto Quirno” (Cemic)
Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet/ Buenos Aires, Argentina)
“Embora todas as crianças tenham ferramentas para regular suas emoções, pensamentos e comportamentos, sua expressão e uso durante o desenvolvimento variam muito devido à influência de múltiplas diferenças individuais e de contexto.”
“O conhecimento sobre como as funções executivas mudam durante o desenvolvimento quando as crianças vivem em contextos de privação socioeconômica é uma área do conhecimento que também deve ser ampliada por meio da implementação de pesquisas bem delineadas, que acompanhem cada criança ao longo do tempo.”
Sebastián J. Lipina
Unidade de Neurobiologia Aplicada
Centro de Educação Médica e Pesquisas Clínicas “Norberto Quirno” (Cemic)
Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet/ Buenos Aires, Argentina)
Participação de pais, professores, formuladores de políticas e demais partes interessadas é fundamental no desenvolvimento das crianças de suas comunidades
FOTO: ADOBESTOCK
Diferentes fatores influenciam no desenvolvimento das funções executivas de crianças, especialmente no contexto de famílias com carências socioeconômicas. As pesquisas sobre o tema avançaram nos últimos anos, mas ainda há muitas questões por responder. As funções executivas consistem em diferentes processos emocionais e cognitivos que participam da regulação de emoções, pensamentos e comportamentos durante a realização de atividades da vida cotidiana e o aprendizado escolar. Alguns exemplos dessas funções incluem atenção, controle inibitório de pensamento e comportamento, gerenciamento de informações recentemente adquiridas, flexibilidade para mudar estratégias ao resolver uma tarefa e a organização de etapas que levam à solução de um problema complexo.
Esses processos regulatórios começam já no primeiro ano de vida, e seu desenvolvimento continua até pelo menos a terceira década dela. Desde a pré-escola e durante todo o ensino fundamental, a pesquisa psicológica descobriu que o nível de desempenho executivo está positivamente associado ao desempenho acadêmico.
Características e experiências pessoais influenciam como essas funções se desenvolvem e são implementadas. Isso significa que, embora todas as crianças tenham essas ferramentas para regular suas emoções, pensamentos e comportamentos, sua expressão e uso durante o desenvolvimento variam muito devido à influência de múltiplas diferenças individuais e de contexto.
Pesquisadores estudam o desempenho executivo das crianças por meio de três métodos principais: (a) A administração de tarefas laboratoriais ou padronizadas (como aquelas usadas para avaliações psicodiagnósticas). (b) Relatos de comportamentos que exigem funções executivas em casa e na escola de cuidadores e professores. E (c) observações de tais comportamentos nesses e em outros contextos de desenvolvimento, como atividades esportivas em grupo, visitas a pediatras ou museus, brincadeiras em um parque ou participação em uma atividade em sala de aula.
A maioria dos estudos conduzidos nas últimas décadas se baseia no primeiro e no segundo tipos de métodos. Ainda é necessário expandir o conhecimento sobre como essas habilidades são implementadas em outros contextos.
Diferentes fatores influenciam no desenvolvimento das funções executivas de crianças, especialmente no contexto de famílias com carências socioeconômicas. As pesquisas sobre o tema avançaram nos últimos anos, mas ainda há muitas questões por responder. As funções executivas consistem em diferentes processos emocionais e cognitivos que participam da regulação de emoções, pensamentos e comportamentos durante a realização de atividades da vida cotidiana e o aprendizado escolar. Alguns exemplos dessas funções incluem atenção, controle inibitório de pensamento e comportamento, gerenciamento de informações recentemente adquiridas, flexibilidade para mudar estratégias ao resolver uma tarefa e a organização de etapas que levam à solução de um problema complexo.
Esses processos regulatórios começam já no primeiro ano de vida, e seu desenvolvimento continua até pelo menos a terceira década dela. Desde a pré-escola e durante todo o ensino fundamental, a pesquisa psicológica descobriu que o nível de desempenho executivo está positivamente associado ao desempenho acadêmico.
Características e experiências pessoais influenciam como essas funções se desenvolvem e são implementadas. Isso significa que, embora todas as crianças tenham essas ferramentas para regular suas emoções, pensamentos e comportamentos, sua expressão e uso durante o desenvolvimento variam muito devido à influência de múltiplas diferenças individuais e de contexto.
“Embora todas as crianças tenham ferramentas para regular suas emoções, pensamentos e comportamentos, sua expressão e uso durante o desenvolvimento variam muito devido à influência de múltiplas diferenças individuais e de contexto.”
Pesquisadores estudam o desempenho executivo das crianças por meio de três métodos principais: (a) A administração de tarefas laboratoriais ou padronizadas (como aquelas usadas para avaliações psicodiagnósticas). (b) Relatos de comportamentos que exigem funções executivas em casa e na escola de cuidadores e professores. E (c) observações de tais comportamentos nesses e em outros contextos de desenvolvimento, como atividades esportivas em grupo, visitas a pediatras ou museus, brincadeiras em um parque ou participação em uma atividade em sala de aula.
A maioria dos estudos conduzidos nas últimas décadas se baseia no primeiro e no segundo tipos de métodos. Ainda é necessário expandir o conhecimento sobre como essas habilidades são implementadas em outros contextos.
“O conhecimento sobre como as funções executivas mudam durante o desenvolvimento quando as crianças vivem em contextos de privação socioeconômica é uma área do conhecimento que também deve ser ampliada por meio da implementação de pesquisas bem delineadas, que acompanhem cada criança ao longo do tempo.”
Privação socioeconômica
Estudos realizados nas últimas três décadas em diferentes países indicam que crianças de 0 a 18 anos expostas a diferentes formas de privação socioeconômica têm maior probabilidade de obter pontuações mais baixas em testes e tarefas que exigem funções executivas.
Além disso, ao analisar a atividade cerebral de alguns grupos de crianças durante esse tipo de avaliação, os pesquisadores também observaram mudanças nos padrões de atividade eletroencefalográfica que sugerem mudanças na maturação de algumas redes neurais envolvidas no funcionamento executivo.
A maioria desses estudos implementou o que chamamos de “desenhos sincrônicos” — o que significa que cada criança é avaliada apenas uma vez e não várias vezes durante seu desenvolvimento. Os autores estudaram principalmente países ocidentais industrializados, concentrando-se em déficits em vez de em outros aspectos, como possibilidades de adaptação.
Esta última característica começou a ser estudada recentemente. Descobertas preliminares sugerem que as privações não necessariamente excluem a possibilidade de implementar processos regulatórios executivos em todos os casos, mas, frequentemente, podem resultar em formas de adaptação a contextos de privação.
Por exemplo, a atenção a estímulos ambientais relevantes e irrelevantes para aumentar as chances de adaptação. Isso é importante porque levar em consideração as funções executivas em planos educacionais e políticas de desenvolvimento humano requer abordar as necessidades de diferentes grupos de crianças e, consequentemente, considerar tanto os aspectos deficitários quanto as potencialidades por meio da adaptação a contextos de privação.
Para a caracterização das experiências de privação, os estudos têm usado principalmente indicadores individuais ou informações combinadas sobre renda familiar, educação materna e ocupação parental. As evidências indicam que cada um desses indicadores pode ser associado a processos executivos específicos de diferentes maneiras, o que estaria relacionado ao fato de que cada um representa uma fonte de recursos e dinâmica de distribuição específica em casa.
Este é um tópico de pesquisa que requer mais estudos que explorem com mais ênfase o efeito de diferentes indicadores de privação mais próximos das experiências das crianças. Por exemplo, renda ou necessidades básicas referem-se a privações familiares, mas a falta de materiais e incentivos em casa que promovam o aprendizado está diretamente relacionada à privação das crianças.
No mesmo sentido, ainda é necessário implementar métodos que considerem aspectos individuais e culturais específicos de crianças de diferentes sociedades sobre como os comportamentos executivos são valorizados e expressados em diferentes culturas.
As associações entre privações socioeconômicas e funções executivas também podem ser mediadas e moderadas por diferentes fatores individuais e contextuais desde o pré-natal. As mais estudadas são: desregulação fisiológica, saúde física e mental individual, tempo de início da puberdade, exposição a fatores de estresse (por exemplo, disciplina rígida, estresse autorrelatado, estresse dos pais, tensão financeira), comportamento parental (por exemplo, sensibilidade e atenção materna), recursos domésticos e escolares para estimulação cognitiva e exposição à linguagem.
Além disso, a literatura científica nesta área ainda não é conclusiva sobre a potencial influência de fatores como idade, sexo, etnia e diferenças entre áreas rurais e urbanas em diferentes sociedades.
Embora o acúmulo desse conhecimento seja válido e forneça orientação para pais, professores e formuladores de políticas, ele também tem algumas limitações que a pesquisa atual tenta resolver para melhorar sua compreensão e uso no desenvolvimento de estratégias e políticas de intervenção.
A primeira é que as informações são probabilísticas e baseadas em níveis médios de desempenho e experiências de privação relatadas pelas famílias (não diretamente das crianças). Isso significa que não representam todas as crianças em suas diferenças individuais e contextuais.
Além disso, por representar apenas a população das amostras utilizadas nos estudos, seu caráter não é universal, o que gera a necessidade de ampliar os estudos que abordem a variabilidade das trajetórias de desenvolvimento e dos sistemas de normas, crenças e valores que cada comunidade possui, ou as marcas de alta desigualdade social, como as que caracterizam os países latino-americanos.
Há que se considerar ainda que o conhecimento sobre como as funções executivas mudam durante o desenvolvimento quando as crianças vivem em contextos de privação socioeconômica é uma área do conhecimento que também deve ser ampliada por meio da implementação de pesquisas bem delineadas, que acompanhem cada criança ao longo do tempo.
Pesquisas futuras
Dada a variabilidade nas trajetórias de desenvolvimento executivo devido a múltiplos fatores individuais e de contexto, e a diversidade de instrumentos de medição, as pesquisas futuras se beneficiariam da implementação de modelos longitudinais (ao longo do tempo) com uma diversidade de instrumentos e formatos de avaliação que valorizem o desempenho, a motivação e os interesses das quanto de países majoritários (resto do mundo), para exploração mais profunda de alguns pontos.
A começar pela investigação do próprio efeito da quantidade e ocorrência concomitante de privações no desenvolvimento executivo das crianças. Além disso, seria interessante detalhar em quais pontos do desenvolvimento essas associações são mais fortes, quanto tempo os efeitos duram e o papel específico das experiências de privação em crianças em diferentes atividades e contextos de desenvolvimento (por exemplo, casa, escola, vizinhança).
Também faz falta saber mais sobre a diferenciação entre os efeitos de déficit e adaptação, bem como conhecer as dinâmicas existentes entre fatores de diferentes níveis de organização (por exemplo, neural, cognitivo, comportamental e social).
A participação de pais, professores, formuladores de políticas e demais partes interessadas na construção e uso desse conhecimento é fundamental para contribuir com o desenvolvimento de suas crianças.