Yvirá Cátedra UNESCO de Educação e Diversidade Cultural UNESCO
NOVEMBRO/ DEZEMBRO 2025 | nº4
Como assim? Como assim?

Como assim?

Perguntas que inquietam os docentes

NOVEMBRO/DEZEMBRO 2025 | nº4 | Nesta seção, especialistas convidados por YVIRÁ respondem a perguntas enviadas por professores que integram a Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE) como “Amigos da Rede”.

Para esta edição, discorremos sobre a importância das políticas públicas na garantia de inclusão escolar, com foco nos estudantes da educação especial. Primeiro, o professor Pablo de Santana Lopes, estudante de doutorado do Departamento de Letras da Universidade Federal de Sergipe (UFS), detalha as necessidades e desafios de estudantes surdos, a começar pelo reconhecimento do direito à educação bilíngue.

Depois, a coordenadora do curso de Graduação em Letras (Inglês) da PUC-RS, Aline Fay de Azevedo, professora da Escola de Humanidades na mesma universidade, explica como políticas públicas podem fazer a diferença no fortalecimento da inclusão escolar, com foco nos obstáculos enfrentados por estudantes surdos.

DIREITO À EDUCAÇÃO

“De que maneira as políticas públicas podem fortalecer a inclusão escolar, garantindo formação para os professores e suporte adequado para os estudantes da educação especial?” 

FOTO: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

Enviada por  Ana Lucia de Albuquerque Moniz, professora de Educação Especial, município de Nilópolis, RJ

Pablo de Santana Lopes
Programa de Pós-Graduação
Departamento de Letras
Universidade Federal de Sergipe

O compromisso com a inclusão não cabe apenas à comunidade surda, mas também às pessoas não surdas, como professores, intérpretes, gestores e colegas, que devem atuar de forma colaborativa na construção de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo e bilíngue.

Pablo de Santana Lopes
Programa de Pós-Graduação
Departamento de Letras
Universidade Federal de Sergipe

No caso de estudantes surdos, as políticas públicas são essenciais para garantir a inclusão escolar, especialmente quando reconhecem o direito à educação bilíngue, com a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua e o Português escrito como segunda. Para isso, é essencial que as políticas trabalhem dois eixos principais: formação de professores e suporte linguístico e pedagógico aos estudantes surdos.

Quanto aos docentes, é necessário oferecer formação inicial e continuada sobre educação de surdos, com ênfase na Libras, na cultura surda, compreendida como o conjunto de práticas sociais, valores, modos de comunicação e identidade compartilhados pela comunidade surda, e nas práticas pedagógicas bilíngues. O compromisso com a inclusão, no entanto, não cabe apenas à comunidade surda, mas também às pessoas não surdas (ouvintes), como professores, intérpretes, gestores e colegas, que devem atuar de forma colaborativa na construção de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo e bilíngue. Isso inclui também os estudantes ouvintes, que devem ser incentivados a aprender o básico da Libras, promovendo interações mais equitativas e o reconhecimento da diversidade linguística em sala de aula.

O compromisso com a inclusão não cabe apenas à comunidade surda, mas também às pessoas não surdas, como professores, intérpretes, gestores e colegas, que devem atuar de forma colaborativa na construção de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo e bilíngue.

Para os estudantes surdos, o suporte adequado começa com o reconhecimento de sua(s) identidade(s) linguística(s) e cultural(is). Isso significa garantir o acesso à Libras desde os primeiros anos escolares, respeitando sua língua materna. Também é fundamental que a Libras esteja presente nos documentos curriculares e nas práticas pedagógicas, para além de eventos pontuais.

Com base nisso, as políticas públicas só serão efetivamente inclusivas se forem construídas com diálogo entre a comunidade surda, os profissionais da educação básica e com base no princípio da justiça social: o direito de aprender na própria língua e viver com dignidade.

Como assim? Como assim?

Como assim?

E no caso de estudantes com diferenças cognitivas e outros transtornos de aprendizagem e do neurodesenvolvimento?

FOTO: ADOBESTOCK

Aline Fay de Azevedo
Coordenadora do curso de Graduação em Letras (Inglês) – PUC-RS
Professora da Escola de Humanidades – PUC-RS
Instituto do Cérebro (INSCER) – PUC-RS

Políticas públicas eficazes devem assegurar programas de capacitação contínua que articulem teoria e prática, com ênfase na compreensão das diferenças cognitivas, como a dislexia e outros transtornos de aprendizagem e do neurodesenvolvimento.

Aline Fay de Azevedo
Coordenadora do curso de Graduação em Letras (Inglês) – PUC-RS
Professora da Escola de Humanidades – PUC-RS
Instituto do Cérebro (INSCER) – PUC-RS

As políticas públicas desempenham papel fundamental na consolidação de uma escola verdadeiramente inclusiva, sobretudo quando garantem formação continuada para os professores e suporte pedagógico e institucional aos estudantes. A inclusão escolar não se limita à matrícula; ela exige condições concretas de aprendizagem, acessibilidade física e curricular e apoio especializado para que os estudantes possam desenvolver plenamente suas potencialidades.

Acredito que a formação docente é o eixo central dessa transformação. Políticas públicas eficazes devem assegurar programas de capacitação contínua que articulem teoria e prática, com ênfase na compreensão das diferenças cognitivas, como a dislexia e outros transtornos de aprendizagem e do neurodesenvolvimento. É fundamental que os professores dominem princípios da ciência da leitura, como a importância da consciência fonológica, da decodificação e da instrução sistemática, para que possam intervir precocemente e adaptar suas metodologias. Além disso, a formação deve promover uma postura inclusiva baseada em evidências e no reconhecimento da diversidade como elemento constitutivo do ambiente escolar.

Políticas públicas eficazes devem assegurar programas de capacitação contínua que articulem teoria e prática, com ênfase na compreensão das diferenças cognitivas, como a dislexia e outros transtornos de aprendizagem e do neurodesenvolvimento.

Outro ponto essencial é o suporte institucional. As políticas devem garantir equipes multiprofissionais atuando de forma integrada com os docentes, incluindo psicopedagogos, linguistas, fonoaudiólogos e psicólogos educacionais. Esses profissionais contribuem para o diagnóstico, a elaboração de planos de ensino individualizados e o acompanhamento contínuo do progresso dos estudantes. A escola precisa dispor de recursos didáticos acessíveis, tais como materiais multissensoriais, tecnologias assistivas e adaptações curriculares, que favoreçam diferentes abordagens pedagógicas.

Ademais, é indispensável que o financiamento público assegure infraestrutura adequada, redução de barreiras físicas e pedagógicas e o fortalecimento das Salas de Recursos Multifuncionais. A articulação entre as secretarias de Educação, Saúde e Assistência Social amplia o alcance das ações e garante que o estudante com necessidades específicas receba apoio integral.

Por fim, políticas de avaliação e monitoramento são cruciais para medir o impacto das iniciativas e ajustar estratégias. A inclusão só se efetiva quando o sistema educacional se compromete com a aprendizagem de todos, promovendo equidade em lugar de homogeneização.

Assim, ao investir em formação docente baseada em evidências, suporte técnico interdisciplinar e condições estruturais adequadas, as políticas públicas não apenas garantem o direito à educação, mas também transformam a escola em um espaço de pertencimento e desenvolvimento pleno para cada estudante.

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