
Como assim?
Perguntas que inquietam os docentes
JULHO/AGOSTO 2025 | nº3 | Nesta seção, especialistas convidados por YVIRÁ respondem a perguntas enviadas por professores que integram a Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE) como “Amigos da Rede”. Desta vez, o foco é o uso no ensino dos chamados mapas conceituais. Eles têm como base a teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel, mas foram criados por Joseph Novak, que os propôs como uma forma de visualizar as mudanças provocadas pelo processo de aprendizagem.
Mais do que memorizar, o estudante aprende a compreender e a construir seus próprios significados, explica Paulo Correia, professor e coordenador do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Universidade de São Paulo.
Os mapas conceituais podem ser recursos valiosos para educadores e alunos ao proporcionar formas visuais para representar e construir o conhecimento. É o que destaca a professora Liane Margarida Rockenbach Tarouco, do Programa de Pós-graduação Informática na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante da Rede CpE. Confira as respostas a seguir.
RECURSO DE APRENDIZAGEM
Mapa conceitual funciona?
IMAGEM: ADOBESTOCK
*Enviada por Amauri Betini Bartoseck, professor universitário, Curitiba, Paraná
Paulo Correia
Professor da Universidade de São Paulo
Coordenador do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza | LCN
Grupo de Pesquisa Mapas Conceituais
Paulo Correia
Professor da Universidade de São Paulo
Coordenador do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza | LCN
Grupo de Pesquisa Mapas Conceituais
Sim, mapas conceituais funcionam – e muito bem! Trata-se de uma ferramenta gráfica que permite organizar e representar visualmente o conhecimento. A ideia é simples: a partir de um conceito inicial, são ligados outros conceitos por meio de termos de ligação, formando proposições. Cada proposição é composta por um conceito inicial, um termo de ligação e um conceito final – por exemplo: “fotossíntese depende de luz”. O termo de ligação (“depende de”) explicita a relação entre os conceitos, o que torna o pensamento mais claro e estruturado.
Essa característica torna os mapas conceituais mais sofisticados e desafiadores do que os mapas mentais, que se limitam a associar conceitos sem revelar as relações entre eles. Nos mapas conceituais, é justamente a construção das proposições que exige maior elaboração cognitiva por parte do estudante – ou do professor.
Aliás, vale destacar: os mapas conceituais não são úteis apenas para os alunos. Professores também se beneficiam ao construir seus próprios mapas durante o planejamento didático. Essa prática os ajuda a explicitar relações conceituais importantes, organizar sequências de ensino e identificar possíveis lacunas ou oportunidades de aprofundamento. Alguns desses mapas podem inclusive ser estrategicamente compartilhados com os alunos, como modelos de organização conceitual ou como ponto de partida para discussões.
No contexto escolar, os mapas podem ser usados no início de uma sequência didática, para identificar conhecimentos prévios; durante o percurso, para organizar e aprofundar ideias; e ao final, como revisão e avaliação da aprendizagem. Além disso, favorecem o desenvolvimento de habilidades metacognitivas, ao permitir que o aluno reflita sobre como pensa e aprende. Ao explicitar relações entre conceitos, ele aprende a aprender – algo essencial em um mundo de constantes transformações.

Como assim?
Como os mapas conceituais podem agir em benefício da educação?
FOTO: ADOBESTOCK
Liane Margarida Rockenbach Tarouco
Programa de Pós-graduação Informática na Educação
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Integrante da Rede CpE
Liane Margarida Rockenbach Tarouco
Programa de Pós-graduação Informática na Educação
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Integrante da Rede CpE
O mapa conceitual constitui recurso valioso no processo de ensino-aprendizagem proporcionando formas visuais (diagramas) para elicitar, representar e construir o conhecimento. Segundo proposto por Joseph Novak (1980), mapas conceituais usam caixas com conceitos, por sua vez interligadas por conexões rotuladas com frases de ligação que representam o relacionamento ou conexões lógicas. A figura seguinte ilustra este conceito.
O mapa conceitual pode ser usado como recurso preparatório para uma nova aprendizagem. Ao construir um mapa com o que já conhece sobre determinado assunto, o aluno ativa e organiza o que já sabe.

Duas teorias de cognição e aprendizagem apoiam o uso dos mapas conceituais: a teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel (1980) e a teoria da aprendizagem multimídia de Richard Mayer (2021).
A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel é a base teórica que fundamenta e justifica o uso de mapas conceituais como estratégia pedagógica. Essa teoria defende que a aprendizagem ocorre de forma mais eficaz quando novas informações se conectam de maneira substantiva ao conhecimento prévio do aluno. Neste sentido, o mapa conceitual pode ser usado como recurso preparatório para uma nova aprendizagem. Ao construir um mapa com o que já conhece sobre determinado assunto, o aluno ativa e organiza o que já sabe. Assim, o uso deste recurso oferece vantagens tais como auxiliar a organização de ideias, promover a associação de novos conhecimentos aos prévios e estimular a metacognição.
Ao longo do processo de ensino-aprendizagem, o mapa conceitual pode ser usado para organizar continuamente os conceitos que forem sendo construídos, de forma individual ou colaborativa. A discussão, argumentação e coautoria do mapa conceitual de forma colaborativa favorece discussões ricas, conflito cognitivo produtivo e a negociação de significados ensejando a construção coletiva do conhecimento.
Já a teoria da aprendizagem multimídia de Mayer fornece fundamentos para o uso eficaz e intencional de mapas conceituais como recurso pedagógico envolvendo o uso de multimídia. Mayer propôs princípios, com base em evidências experimentais, sobre como os alunos aprendem melhor usando palavras e imagens, exatamente como os mapas conceituais fazem, integrando texto e representação visual. Segundo Mayer, os alunos aprendem melhor quando informações são apresentadas em múltiplos formatos complementares e o conjunto de conceitos é bem organizado cognitivamente, com um design orientado a reduzir a sobrecarga cognitiva desnecessária.
Os mapas conceituais favorecem o processamento ativo ao exigir que o aluno selecione e construa o diagrama com os conceitos mais relevantes, organize hierarquicamente esses conceitos e integre as ideias usando as conexões lógicas. Desta forma, o uso de mapa conceitual auxilia na redução da carga cognitiva desnecessária, pois envolve o uso de sinalização (ligações destacando relações importantes entre conceitos) e segmentação, o que permite explorar o conhecimento por partes.