Relato concedido a Elisa Martins
Jornalista, especial para a Yvirá
Chamava a atenção o fato de os alunos permanecerem muito tempo sentados desenvolvendo as atividades pedagógicas, com um pequeno intervalo de recreio. Essa rotina causa sedentarismo.
Relato concedido a Elisa Martins
Jornalista, especial para a Yvirá
SETEMBRO/OUTUBRO 2025 | n°.3 | Iniciativa parte da investigação sobre os benefícios da integração entre movimento, cognição e aprendizagem FOTO: ADOBE STOCK
No dicionário, “erguer” significa “elevar”, “levantar”, “ficar de pé”. No caso do projeto que leva esse nome, “erguer” é também sinônimo de ânimo em alta e menos sedentarismo nas escolas. A iniciativa é aplicada na rede municipal de ensino de Aracaju e se expande para Alagoas e Bahia. O projeto Erguer começou em 2014, em Londrina (Paraná), amparado na investigação sobre os benefícios da integração entre movimento, cognição e aprendizagem. Chamava a atenção dos professores o fato de os alunos passarem muito tempo sentados durante as atividades pedagógicas.
A situação despertou o interesse de Advanusia Oliveira, professora do Ensino Fundamental e uma das responsáveis pela aplicação do Erguer em Aracaju. Em relato à Yvirá, ela contou como a rotina escolar mais ativa propiciou mudanças, inclusive no fortalecimento da aprendizagem, através de atividades acadêmicas ativas, alternadas entre práticas acadêmicas e práticas de atividade física. Confira a seguir.
Advanusia Oliveira
Professora do Ensino Fundamental
Programa de Pós-Graduação em Educação
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Como docente do 2º ano do Ensino Fundamental, me chamava atenção o fato de os alunos permanecerem muito tempo sentados desenvolvendo as atividades pedagógicas, com um pequeno intervalo de recreio. Essa rotina causa sedentarismo. Foi assim que a proposta do Erguer despertou meu interesse. O projeto partiu de uma pesquisa sobre os benefícios da integração entre o movimento, a cognição e a aprendizagem.
A investigação e a intervenção com lições fisicamente ativas começaram em 2014, em Londrina, com os professores Edilson Cyrino e Luis Sardinha, que levaram as atividades para Lisboa, em 2016, e depois, em 2018, as transferiram para Aracaju (Sergipe), onde o projeto se estabeleceu de fato. Foi quando aceitei participar da iniciativa. Com isso, o Erguer me permitiu proporcionar novas formas de organizar o processo de ensino e aprendizagem e reduzir o tempo sedentário dos alunos.
Todos os dias, dentro de algum componente curricular, eu e os estudantes desenvolvíamos atividades teóricas e depois as aplicávamos na prática ao objeto do conhecimento. As atividades eram retiradas do repertório disponibilizado pelo grupo Erguer, que reúne mais de 200 tarefas de português e matemática, além de sugestões para o processo de ensino e aprendizagem em combinação com atividades físicas.
Elas proporcionavam momentos de movimento articulados ao conteúdo escolar. Exemplos disso são a encenação de uma história ou o desenho de números no ar com braços ou pernas erguidos. Na articulação entre os domínios matemáticos, como na lição sobre as operações, utilizávamos o triângulo de cálculo. No quadro ou no papel metro, colocávamos vários triângulos que continham operações de adição a serem completadas. Os estudantes precisavam levantar-se e observar todos os triângulos para encontrar o espaço vazio no qual cabia o número do seu cartão.
Melhora psicomotora, socioemocional e cognitiva
Após cada aplicação, foi perceptível a relevância do movimento na rotina da sala de aula. Ele permite maior engajamento entre os alunos e encoraja as crianças a serem fisicamente ativas, motivadas a participar nas resoluções das atividades em sala de aula e dentro de uma turma muito heterogênea. Isso é motivador porque os alunos se ajudam entre si, expandindo os limites de cada indivíduo. Além disso, as necessidades especiais de alguns eram minimizadas pela oportunidade da sua participação ativa na proposta.
Hoje o projeto Erguer é executado em várias escolas da rede municipal de ensino de Aracaju e tem se expandido para Alagoas e Bahia. É uma iniciativa multicêntrica que vem alcançando resultados importantes ao garantir o aumento do tempo de movimento. Oferece possibilidades para uma aprendizagem fortalecida por atividades acadêmicas ativas, alternando as práticas acadêmicas e a prática da atividade física (na própria sala de aula ou na quadra), melhora o desenvolvimento cognitivo e o desempenho escolar e promove um estilo de vida em uma rotina escolar mais ativa, na qual o estudante é protagonista na busca de novos conhecimentos e habilidades.
Foi perceptível a relevância do movimento na rotina da sala de aula. Ele permite maior engajamento entre os alunos e encoraja as crianças a serem fisicamente ativas, motivadas a participar nas resoluções das atividades em sala de aula e dentro de uma turma muito heterogênea.
O movimento realizado pelos estudantes no momento da execução das tarefas promove uma associação entre o objeto do conhecimento apresentado e movimentos corporais que reforçam e associam o objeto à ação, fortalecendo o compromisso das regras das atividades, a melhoria nos aspectos psicomotores, socioemocionais e cognitivos, as interações entre pares e a consolidação da aprendizagem significativa ao permitir maior assimilação e acomodação dos conteúdos curriculares.
O Erguer também mexe com a dinâmica docente. O crescimento do projeto e da sua metodologia para mais escolas legitima e motiva os professores a darem passos rumo à adaptação de seus planejamentos escolares para aliar a teoria ao movimento e melhorar o ensino e aprendizagem, abandonando o sedentarismo e dinamizando o ambiente escolar. Eu, inclusive, passei a inserir na minha história e na minha prática docente mais dinamismo e mais vida.
Hoje o projeto Erguer é executado em várias escolas da rede municipal de ensino de Aracaju e tem se expandido para Alagoas e Bahia.