Yvirá Cátedra UNESCO de Educação e Diversidade Cultural UNESCO
JULHO/AGOSTO 2025 | nº2
Como assim?

Como assim?

Perguntas que inquietam os docentes

JULHO/AGOSTO 2025 | nº2 | Nesta seção, especialistas convidados por YVIRÁ respondem a perguntas enviadas por professores que integram a Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE) como “Amigos da Rede”.

Desta vez, o tema é a preparação de docentes na aplicação de pesquisas científicas à realidade da prática pedagógica escolar. As respostas são da linguista Raquel Freitag, professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal de Sergipe (UFSE), pesquisadora do Grupo de Estudos em Linguagem, Interação e Sociedade (GELINS) e membro do Comitê Editorial de YVIRÁ.

Da pesquisa à prática escolar

Como preparar os professores para serem consumidores críticos de pesquisas educacionais, garantindo que saibam adaptar evidências científicas à complexidade da prática escolar?

IMAGEM: ADOBESTOCK

Enviada por Virgínia Baptista Chaves Duarte de Lima, educadora/ fundadora da Glia Neurociência Educacional, neurocientista e professora da educação básica, Rio de Janeiro/RJ

Raquel Freitag

Professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Sergipe (UFSE)

Pesquisadora do Grupo de Estudos em Linguagem, Interação e Sociedade (GELINS)

A formação inicial nos cursos de licenciatura precisa incluir disciplinas de metodologia científica e letramento acadêmico para a alfabetização científica.

Raquel Freitag

Professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Sergipe (UFSE)

Pesquisadora do Grupo de Estudos em Linguagem, Interação e Sociedade (GELINS)

Para alcançar este objetivo, precisamos de ações na formação inicial e na formação continuada dos professores e do estímulo à pesquisa científica na escola.

A formação inicial nos cursos de licenciatura precisa incluir disciplinas de metodologia científica e letramento acadêmico para a alfabetização científica. Metodologia científica é mais do que saber regras da ABNT, como costuma ser abordado: é conhecer o método científico e aprender a avaliar a confiabilidade, validade e aplicabilidade de pesquisas científicas, identificando vieses e conflitos de interesse, tipos de pesquisa e limites metodológicos dos resultados.

Junto com o conhecimento de metodologia científica, a formação inicial precisa formar leitores de ciência, daí a importância de disciplinas de letramentos acadêmicos, para instrumentalizar futuros professores a consumirem resultados de pesquisas científicas nos seus diferentes formatos de compartilhamento (artigos científicos, conferências e palestras, relatórios, sumários executivos etc.).

A alfabetização científica forma professores consumidores de ciência que sejam capazes de reconhecer que o conhecimento avança rápido, demandando uma formação continuada, em constante atualização. Já se foi o tempo em que professores eram passadores de conteúdo, ou responsáveis por transmitir conhecimento. Nunca houve tanta fartura de conteúdo, em diferentes mídias e em diferentes abordagens, à disposição da sociedade. Acompanhando este processo, estão os avanços no campo das pesquisas científicas, em todas as áreas do conhecimento. Mas também estamos imersos em conteúdos duvidosos ou produzidos por inteligência artificial. Como saber o que é fato ou fake? Mais uma vez, a alfabetização científica é crucial para o consumo crítico de pesquisas científicas.

E de nada adianta ter todo esse conhecimento e criticidade se não houver mudanças no espaço escolar, com pesquisa na escola (veja aqui, por exemplo, as ações do projeto Cienart). Seja levando evidências científicas com tradução didática do conhecimento, seja com projetos de pesquisa-ação construindo novos conhecimentos a partir da realidade, levar a pesquisa científica para a escola é chave para formar cidadãos capazes de lidar com uma sociedade que tem à disposição conteúdos, mas nem sempre senso crítico e capacidade de discernimento.

Como assim?

Como assim?

Da pesquisa à prática escolar

As ciências têm trazido muitas contribuições para maior compreensão dos processos de ensino e de aprendizagem. Como os programas de formação inicial de professores podem garantir uma prática coerente com as necessidades da educação atual?

FOTO: RAFA NEDDERMEYER/AGÊNCIA BRASIL

Enviada por Aretusa Brandão Brito, diretora de escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental I, Mogi das Cruzes, São Paulo.

Raquel Freitag

Professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Sergipe (UFSE)

Pesquisadora do Grupo de Estudos em Linguagem, Interação e Sociedade (GELINS)

Ao entrar em contato com a realidade da sala de aula desde o começo, futuros profissionais têm mais oportunidade de conhecer diferentes realidades escolares, bem como diferentes tipos de problema.

Raquel Freitag

Professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Sergipe (UFSE)

Pesquisadora do Grupo de Estudos em Linguagem, Interação e Sociedade (GELINS)

Estamos em um momento da ciência em que cada vez mais se tem conseguido achar novas respostas a velhos problemas no campo das ciências cognitivas em relação  ao aprendizado, emoções e leitura, por exemplo, em especial pelos avanços tecnológicos, tais como estudos utilizando técnicas de rastreamento ocular e registro cerebral para comportamentos, e a capacidade de processamento computacional para lidar com grandes conjuntos de dados envolvendo som, texto e imagem. 

No entanto, a velocidade desse avanço nem sempre é acompanhada com a atualização de livros-texto e manuais didáticos para a formação inicial nas licenciaturas, conferindo uma defasagem entre o que se ensina tradicionalmente em currículos fechados e o que se tem de atualizações do campo do saber.

Diante deste descompasso, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial em Nível Superior de Profissionais do Magistério para a Educação Escolar Básica (2024), em processo de implantação nos cursos de formação inicial de licenciatura, abrem oportunidade para uma formação mais alinhada para a realidade escolar, com abertura para a diversidade, interdisciplinaridade e contextualização das práticas. Nessa interseção, não só novas abordagens podem ser exploradas, como é também possível desenvolver outras estratégias que contribuem para a inovação na área educacional.

Um aspecto que as novas diretrizes enfatizam é o contato com a prática, já desde o início do curso, com estágio. Ao entrar em contato com a realidade da sala de aula desde o começo, futuros profissionais têm mais oportunidade de conhecer diferentes realidades escolares, bem como diferentes tipos de problema, assumindo uma postura mais ativa no delineamento de seu perfil de formação. 

As atividades acadêmicas de extensão, vinculadas ao currículo e voltadas para articulação entre teoria e prática dos componentes curriculares do curso de formação inicial, são outra maneira de oportunizar uma atuação mais diretamente voltada para a realidade de cada comunidade escolar.

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